Viajar até Marrocos II



VI raid ATTA (2003) 4X4



De repente uma tenda de venda de tapetes no deserto !


A imensidão das areias finas e douradas, contrastam em dois tons com um céu azul, límpido e sem nuvens.

Nada no horizonte do mar de areia. Nada a voar ou flutuar no espaço, e só o ruído da c
aravana todo o terreno, a deixar atrás de si rolos de poeira de nuvens leves que logo se acamam, e aquietam, num solo onde fica o tracejado dos pneus.

De repente surge um ponto saliente à nossa frente, umas ruínas da cor do solo, feitas de tijolos de adobe amassado em bosta de animais, e cimentados por escassa água de chuvas raras.

Depois a pouco e pouco, divisa-se um ponto mais escuro que ao avanço dos jeeps vai tomando a forma de uma pirâmide irregular.


Mais próximo ainda, apercebemo-nos: É uma tenda berbere de serapilheira grossa, cor de alcatrão ou de óleo usado. Na frente, um berbere entre tapetes, uma cadeira de plástico vermelha, um bidon de água também em plástico, um fogareiro camping gás para o bule de
chá, de hortelã pimenta.

Depois apercebemo-nos de outras tendas, de outros
berberes comerciantes do deserto. É tempo de uma paragem!

Os cinco jeeps do VI Raid Alenquer Marrocos, alinham em paralelo, e todos saltamos fora da trepidação, para uma pausa dos km de pista já rodados.

Claro que tanto são motivo de atracção e curiosidade para nós, as tendas berberes, como são para estes os jeeps portugueses, que são cercados para satisfazer a curiosidade... o quê, portugueses? Pois entã
o são dos “nossos” e isto, em pleno deserto significa futebol: Figo, Sérgio Conceição, Pauleta, têm ali admiradores!

Acresce a curiosidade pelo UMM, raro naquelas paragens, e pelo emblema do ACP com as quinas que continuam a ser o brasão da cidade de CEUTA, enfim pelo autocolante do Circulo de Amizade Portugal Marrocos escrito em português e em árabe, e com os emblemas verde rubro (comuns a Marrocos e a Portugal) um da estrela de cinco pontas, o outro, o das quinas.

Aumenta a curiosidade com a chegada de miúdos aparecidos como que do nada, e a pedinchar ... dirham (uma moeda) bonbon (um rebuçado) ou stylo (esferográfica) ou pura e simples a papaguearem sem fim, merci, merci, como antecipando o agradecimento por alguma oferta mais valiosa, e por isso mais ambicionada, por exemplo uma “casquete”... ou seja um boné.

O grupo dos Amigos Todo o Terreno de Alenquer, participantes neste raid de 18 a 30 de Abril, de 2003, por terras de Marrocos, de Tanger a Zagora, desta vez resistiu às compras de tapetes, de bijuteria e de tambores (tan-tans).

Foi mesmo uma pausa ligeira. O caminho esperava, e pouco depois todos rumamos areias afora no sentido Merzouga - Zagora pela pista militar, junto à fronteira da Argélia.

Nada do que vimos naquele deserto lembrava Tanger, o campo de batalha de Alcácer Quibir ou Ifrane. Nada do que vimos naquelas areias tinha algo em comum com os portos e praias de Mogador (Essaouira) ou Mazagão (El Jadida)
que iríamos visitar no regresso.

Nada? Talvez afinal tudo tivesse a ver, a natureza, a presença humana resistente, a imensidão do universo afinal, é a mesma!

Decarvalho
Maio de 2003

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